domingo, 30 de novembro de 2025

LAPSOS DO LUTO

 SOBRE LUTO E LAPSOS DA ALMA
*Rose Leonel

Depois que mamãe morreu, com 83 anos... praticamente no aniversário dela, dia 18 pra
dia 19 de setembro, eu tive uma hemorragia, que na verdade começou semanas antes do
falecimento dela. Meu coração e meu útero sabiam que ela iria nos deixar.
Então, depois que passaram as lágrimas do meu útero, semanas depois que a
hemorragia cessou, eu comecei a ter sérios lapsos de memória. Eu tinha, como sempre, muitos
eventos, muitos compromissos de trabalho: reuniões, entrevistas e coisas do dia a dia. Mas
comecei a ser abordada pelos amigos e colaboradores com a seguinte questão:
_Rose, você não veio no nosso compromisso. Aconteceu alguma coisa?
Além desses episódios, tive outros, constrangedores, que eram do tipo:
_ Olha amiga, esse aqui é fulano!
_Rose, a gente já se conhece. Lembra que você já nos apresentou?
E eu simplesmente não me lembrava.
Comecei a anotar rÍgidamente meus compromissos e a ficar alerta a determinadas
coisas, tomando mais cuidado para não esquecer. E nesse interim, comecei a fazer aulas de
Inglês na CNA, para sair do luto, mudar meu foco e melhorar a memória.
E foi muito bom. Posso dizer que fui me recuperando aos poucos. Até que esses lapsos
ficaram menos frequentes. Sei que senti demais a morte da minha mãezinha. Não tinha idéia
de como isso me abalaria.
Mas o fato é que tem situações que não esperamos e que nos afetam de uma forma
tão visceral que apenas passando por elas para entendermos a sua profundidade e a sua
dimensão. O luto é algo que nossa alma não está preparada para compreender, embora nossa
mente saiba que a morte faça parte da vida. Imaginar o luto é simplesmente impossível. E só
saberemos como nos sentiremos a respeito quando estivermos vivendo. Não existe receita,
nem preparo, nem pré-treino... nem cursinho, simulado ou coisas que nos preparem para os
lutos da nossa jornada, apenas passando por eles, sentindo, vivendo... E vivendo a vida um dia
após o outro, um dia de cada vez, se permitindo, se acolhendo, se abraçando e se amando...
afinal de contas, enfrentar o luto talvez seja simplesmente isso: se permitir sentir!