segunda-feira, 15 de abril de 2013


SÁBADO, 19 DE JUNHO DE 2010


INFELIZMENTE, TRAUMAS FICARAM...


UM SONHO RUIM
Sabe, ainda hoje tenho sonhos ruins... Minhas noites acabam povoadas por sensações e sentimentos que me dão calafrio. Não sei se um dia vou esquecer o que sofri... O peso dos olhares, a acusação, o escárnio. Parece que fui a guerra e vi tantas mortes... Sabe, soldados que foram às trincheiras de guerra e voltaram marcados por verem tanta gente morrendo? Por enfrentarem a morte? Pois é: eu enfrentei a morte durante esses quatro anos!
Morri aos poucos... Fui sendo marcada e extinguida a cada olhar punitivo, a cada foto que saía com meu nome, endereço, telefone e email na Internet... A cada postagem na Rede Mundial de Computadores, em sites de pornografia, vendo minha imagem, misturada nos mais baixos recônditos da prostituição on line. Foi duro golpe ver meu nome de jornalista, de mãe, de filha, de professora, de ser humano que lutou tantos anos para ser alguém na vida, que estudou e acreditou no ensino, no trabalho, nas pessoas, e por último, no companheiro... Alías, não só acreditei- eu amei quele homem!
Eu não fui a guerras civis, enfrentei uma guerra fria deflagrada contra mim pela Internet, no âmbito virtual, que ecoou na minha vida real. Eu não vi pessoas morrerem - eu enfrentava minha própria morte todos os dias e lutei numa batalha sem tréguas para sobreviver... A cada golpe, cada olhar, cada circulação ou postagem que era feita sobre mim eu sofria e morria um pouco mais! Uma luta que me trouxe sérios danos... Depressão, vontade de ficar em casa, medo das pessoas, vontade de não sair do meu quarto, uma ausência de vontade completa! Entendi porque algumas pessoas se desesperam a ponto de querer deixar de viver, o que sentem aquelas que saem pelo mundo afora, e se transformam em andarilhos, vagando a esmo, sem rumo e sem esperança, querendo sumir de todos e de tudo!
Às vezes tenho pesadelos e acordo gritando a noite! Sonho que saí de casa e de repente, as pessoas começam a me olhar de modo estranho. Daí, me olho, e me dou conta, de que minhas roupas desapareceram, sumiram, meu corpo ficou nu! Então, saio correndo e tento fugir das pessoas... Acordo, assustada, com um grito impotente, engastalhado na garganta, pedindo socorro!
Outro pesadelo às vezes me acompanha. Sonho, por vezes, que estou indo a um banheiro desconhecido... Daí, de repente, esse banheiro fica com as paredes transparentes... Daí, me vejo cercada de olhares invasivos... As paredes se rompem ou simplesmente desaparecem, como num passe de mágica, e repentinamente me vejo surpreendida em público, exposta, com minha tristeza e o olhar punitivo dos transeuntes.

Sonhos ruins, que ainda povoam meu sono à noite, mesmo após 4 anos em que fui vítima de crime na Internet. Algumas coisas machucam a alma e não temos como medir a dimensão nem a profundidade da ferida. A dor vem à tona enquanto o subconsciente trabalha, nas horas solitárias da noite...

Queria então, poder dizer para mim mesma, como diria minha mãe, com aquele carinho que tinha a mágica capacidade de mandar embora todos os bichos papões que viessem incomodar nossa noite de sono: “Volte a dormir minha filha! Isso tudo não passou de um pesadelo! Foi só um sonho ruim! Você estava sonhando! Tudo vai ficar bem!”

SEGUNDA-FEIRA, 14 DE JUNHO DE 2010



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