quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

BANALIZAÇÃO DA VIDA

Sete meses, um pouco mais de um quilo. O menino abandonado em frente ao hospital Evangélico de Ponta Grossa, essa madrugada, foi encontrado em uma caixa térmica, ainda com o cordão umbilical. A direção está à procura de uma vaga em UTI néo-natal para o pequeno sobrevivente, que já veio ao mundo, lutando pela vida. Apelidado carinhosamente pelas emfermeiras do hospital, o Joãozinho é fruto de uma sociedade que vive uma crise de valores e princípios, onde o sentido da vida beira a banalização. Quando vejo acontecimentos como esse que denunciam nossa desvalorização da vida me pergunto: qual é o valor de uma alma? Que respeito temos para com o próximo? Que respeito damos à vida? Um indigente assassinado na calçada; um mendigo agonizando na esquina; um bêbado atrapalhando o tráfego; uma criança no semáforo importunando motoristas, pedindo esmolas; um recém nascido abandonado na rua, numa caixa ou num saco de lixo. Quem é capaz de achar normal ver seu semelhante morrer ao lado, sem nem ao menos estender a mão?! Quem é capaz de permanecer frio frente a uma criança que pede comida? Quem é capaz de levar meninas pra cama, pagar a elas pra se prostituírem, deixarem de lado a infância e deitar-se ao lado de um estranho? Quem abandona o fruto do seu ventre? Que tipo de animal faz isso? Quem somos nós?

Somos aqueles que já acham normal os crimes proliferarem. Somos aqueles que quando se deparam com uma mulher, vítima de um estupro ou de um crime na Internet, folgam e se divertem: "-Ela mereceu! Olha a roupa que ela usava!" Enaltecem o agressor.

Somos aqueles que quando passamos perto de um indigente, temos medo de abrir a janela do carro ou de passar perto na calçada e sermos assaltados.

Somos aqueles que dizemos que não gostamos de política, criticamos quem tem coragem de fazer alguma coisa e nada fazemos para tentar mudar a situação, não nos envolvemos e assumimos por isso o papel de cúmplices das transações políticas vergonhosas e da omissão governamental que fomenta o crescimento da má distribuição de renda, da criminalidade e fortalece as discrepâncias sociais. Simplesmente falamos: "Olha que políticos corruptos! Isso precisa mudar! Abaixo os ladrões do governo!" E dois dias depois, assunto esquecido, outro escândalo entra em pauta. E nada fazemos, sob a bandeira de não gostarmos e não querermos nos envolver em política! Somos aqueles que respiram ares de superioridade: "Não me envolvo em política. ali só tem gente corrupta!" Nossa, como somos cidadão bonzinhos, impolutos e decentes, hein!!

Somos aqueles que contribuem com a esmola instucionalizada das campanhas veiculadas na TV, aunciando: "Doem dinheiro, contribuam com as crianças!" E pegamos o telefone e fazemos doações insignificantes que engrossam contas bancárias de anônimos mas que garantem o sentimento de dever cumprido para nossa pseudo-consciência, que "pagam nossa indulgência" que abafam a consciência, nos dando uma falsa tranquilidade e o efeito psicológico de driblar nossa omissão.

Quem somos nós???

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