Sinto o cheiro do café daqui
A cozinha é convidativa
A vida, vista pelo muro, de fora,
É a dos sonhos, de qualquer família.
Mesmo sabendo disso
Ainda é calorosa!
E me pergunto sobre a vida
Projetos, sonhos
O que têm a ver?
Enquanto isso,
o telefone toca
Alguém querendo
Pedindo, implorando...
Confuso, cego,
Deixado sem rumo.
A vida simples
é tudo o que queremos?
Será que não existe mais?
Mais que a lenha no fogão
E o crepitar das brasas?
O cheiro do café, típico das manhãs...
A sombra da mãe, forte, pura, sólida!
Mais do que os acordos
As fobias modernas
As confusões e os contratos
Que fazemos? Acordos insólitos
Meras formalidades
Limites do coração!
Percebo que nem todos podem sentir
Aquilo que vejo que para alguns
É uma praga, para outros
É um objetivo de vida inalcançável
Um sonho além de sua realidade
Miragem, triste, dolorida e intangível!
Assim , muitos se perdem
Querendo, pedindo e tentando
Ser e sentir o que jamais serão
Outros são, sem se dar conta
E nem por isso entendem
E nem se dão o valor!
Alguns não conseguem ser
Tentam, entendem e valorizam
Mas sabem, que jamais terão
O que tanto queriam ter,
Por mais que arda neles
O desejo de simplesmente amar!
São fadados apenas a sonhar!
E enquanto isso, a vida passa.
Desencontros, encontros
De pessoas que querem encontrar
Seu próprio caminho
Que ainda estão perdidas
E daqueles que fadados
Jamais saberão a direção -
Apenas o não!
Nesse mar de desencontros
De encontros fortuitos
Percebemos que existe um tempo
Um trajeto escrito
Para cada caminho
E nesse percurso
Alguns vão se encontrar
Vão jogar cartas - amigos
Casais felizes, em noite
De sábado - jantar
Enquanto o cheiro de assado
Que vem da cozinha
Prenuncia desejável combinação
Com o vinho, na mesa de estar
Sorriso anuncia -noite quente -
Amor entre os lençóis!
Outros, vão se encontrar cansados
Trabalham muito, mas
Mesmo assim, com carne nova
Estendida sobre a tábua
Se sentirão sozinhos
Incompetentes o bastante
Para serem aquilo que queriam...
Vão chorar o que jamais encontrarão
Na solidão sólida, inóspita
Quase volátil da falta
Da ausência total
Sem saber que a solidão maior
Está no coração
E por isso jamais encontrarão
Serão vazios, cegos, surdos e mudos
Mesmo que o amor esteja perto
Jamais saberão, e se souberem
Não conseguirão apreendê-lo!
Não entendem o idioma do amor
São incapazes emocionais
Eles jamais saberão nem poderão -
Acordar sentindo um abraço
O calor de uma noite à dois
O almoço de família
A feijoada fumegando
As crianças ao redor da mesa
Fazendo traquinagens
Pra chamar atenção...
O amor, para eles
Será sempre volátil
Algo tão valioso e imprescindível
Tão procurado!
Tão urgente!
Tão preemente!
Tão fundamental!
Mas tão distante,
Inconsistente
Inalcançável!
Outros ainda
Em determinado momento
Poderão encontrar...
Quem sabe,
Na esquina
Na mesa de pôquer
Ou no banco da igreja
Quem sabe,
Na fila da padaria
Na rotina do banco
Na praça,
Entre as gôndolas do mercado,
Ou sobre mármores reluzentes.
A vida intensa brilha
Nos mais diversos momentos
Para quem tem o coração
Predestinado para amar!
*Rose Leonel
Nem mais, nem menos.
ResponderExcluirMe vi em todo o seu poema, principalmente aqui:
E nesse percurso
Alguns vão se encontrar
Vão jogar cartas - amigos
Casais felizes, em noite
De sábado - jantar
Enquanto o cheiro de assado
Que vem da cozinha
Prenuncia desejável combinação
Com o vinho, na mesa de estar
Sorriso anuncia -noite quente -
Amor entre os lençóis!
Perfeito. Meus amigos sabem que minha vida é assim.
Que bom Dinor, você é um felizardo! Ser feliz de forma simples, amar e ser amado é tudo o que se quer! É a minha opinião!
ResponderExcluirRose, este trecho me lembrou Adélia Prado que descreveu o amor com atitudes singelas, mornas e, portanto, equilibradas. As pessoas tendem a falar do amor como se fosse uma coisa exagerada, um desespero, uma coisa que desnorteia (músicas sertanejas, por exemplo). E Adélia, não: falava do AMOR como ele é na realidade, sem aquele aspecto romântico ("romântico" no sentido fantasioso, ilusório, irreal).
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