Em dias de namoro na Internet, compras on-line e aulas por vídeo-conferência a Gripe A trouxe mais um fator que favorece o individualismo e aumenta o isolamento das pessoas. Todos estão tomados pelo medo! Evitar qualquer contato é o caminho mais seguro!
Relacionamentos à distância, o esfriamento das relações humanas e o descomprometimento de quem vive para si e por si próprio são sintomas de uma sociedade capitalista que vê na aproximação do outro um perigo a ser evitado.
Não queremos muitos contatos. Temos medo de muito envolvimento e cultivamos relacionamentos superficiais, sem compromissos, sem comprometimentos, sem aprofundamentos, sem maiores implicações.
Quem der um espirro ou deixar escapar uma tosse pode ser banido da sociedade. O infeliz é mal visto em todos os lugares, tanto na fila do banco, no ônibus, na sala de aula e até nas igrejas. (Afinal de contas, é melhor não abusar né, vai que milagres não ocorram mais?)
Somos frutos de uma sociedade que evolui sozinha, estanque, fria e sem calor humano. As novas tecnologias criaram uma geração de seres conectados em um mundo virtual, desconectados no mundo real e agrupados em pequenas tribos que comungam dos mesmos códigos lingüísticos ou comunicativos e professam os mesmos valores. Estamos cercados pelo medo.
A vida toma diferentes formas e se materializa dentro de cada contexto traduzindo estilos e formas de sobrevivência que atendam aos diferentes grupos, mantidos em suas castas, dentro de suas tribos e de suas realidades. Todos separados, buscando cada qual o seu caminho...
A Gripe A vem dar o golpe de mestre da natureza. Ao mesmo tempo que nos separa, nos unifica, igualando a todos, por compartilharem de um mesmo mal, nos mostrando que ainda temos algo em comum: somos todos de carne e osso e um dia vamos todos voltar para o mesmo lugar: o pó!
“Porquanto és pó e ao pó tornarás.”
Gênesis 3-19
(*jornalista e professora)
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