Poderíamos falar da origem da mini-saia, falar dos costumes da sociedade e da evolução da indumentária no decorrer dos anos. A pauta jornalística talvez fosse até interessante. Mas gente, não vamos perder o foco: o ultraje que ocorreu naquela universidade em São Paulo! O momento não é para achar pautas que falem de amenidades, de moda! O momento é para sentirmos o quanto estamos deixando de nos chocar, o quanto estamos deixando de nos revoltar contra as coisas ruins e como estamos aceitando e sendo cúmplices do desamor. O quanto estamos deixando de ser gente!
O incidente foi um termômetro que mede o senso de humanidade, de como a coletividade pode ser burra, de como as mulheres andam, mais do que nunca, cheias de inimizades e invejas e de como o indivíduo está regredindo e se brutalizando.
O incidente lastimável revela o nível da Educação naquela instituição, põe em dúvida os profissionais que estão sendo formados e coloca em xeque a Educação como um todo no Brasil, principalmente no panorama mundial! Que vergonha! Que tipo de profissionais sairão de lá? Houve algum futuro profissional que saiu em defesa dela, lendo a constituição, subiu num palanque e se pôs entre a vítima e a multidão para rezar os direitos humanos ou a Constituição? Houve alguém que propôs um diálogo aberto entre as partes para analisar os ânimos, as intenções por trás do evento que se formava?
Além da polícia que se fez presente para salvar a moça, apenas alguns poucos foram vistos ali, perto dela, lhe dando ajuda... Quem na hora do conflito assumiu uma posição firme contra a barbárie? Não o fizeram por quê? Não queriam se envolver!? Ou o inconsciente coletivo foi mais forte? Não a apoiavam?! Ou realmente queriam ver o circo pegar fogo e extinguir a visão que tanto incomodava, ofuscava os olhos de todos?
Pessoas que deram razão aos bárbaros, que deram razão à direção da faculdade, que disseram, cheias de orgulho e hipocrisia, mesmo sem serem perguntados sobre a questão:
“-Eu nunca usaria um mini-vestido daqueles!”
Gente que já fez MUITO mais do que usar um micro vestido, tem a coragem e a arrogância de falar que jamais faria o que a estudante Geisy Arruda fez: usar um vestido mini! Que pecadora, que moça mais culpada e terrível! Não se enganem! Gente! O foco não é o pequeno tamanho da saia! A questão é o pequeno tamanho da falta de civilidade dos indivíduos e as idéias curtas que revelam a ignorância e hostilidade dos seus acusadores.
Talvez ela tivesse que estar lá na favela com um vestido daqueles! Talvez lá ela tivesse o respeito que não teve dos amigos em uma instituição de ensino.
E pior! Alguém tem notícias do que foi feito dos agressores da aluna? Foram todos expulsos? Quantos? 50? 70? 100? Agora só falta os demais companheiros da instituição de ensino se voltarem contra a aluna, não por causa do vestido, mas dessa vez, pela comoção criada pelos grotescos e pelas grotescas figuras que a humilharam! Pois agora todos se dizem confundidos com os bárbaros.
Mas, me respondam uma coisa: o que se viu foi um bando de seres, fora do controle, sedentos anarquia, de sangue?! E eles agrediram uma estudante indefesa. Aqueles que se dizem equilibrados e sóbrios, e que agora, temem serem confundidos com os bárbaros, deveriam pensar: Que postura eles tomaram frente ao tumulto? Eles fizeram frente ao problema e viu-se um verdadeiro entrave entre as duas forças? Eles tomaram uma posição, deixando claro que eram equilibrados e que não aceitavam nem aprovavam o desatino coletivo ou se calaram? Consentiram? Se omitiram? Engrossaram o coro da Caça às Bruxas! Foi visto um movimento coletivo para coibir o vexame ao qual a estudante foi exposta? Quem a protegeu?
Ou o momento foi muito mais uma oportunidade para que os falsos moralistas estufassem o peito e pudessem então se destacar como os bons da ocasião, as puritanas de plantão, os bonzinhos e as certinhas do pedaço? Eu não sei você, mas vi muito mais ataque do que defesa, muito mais acusações do que reflexões sobre o comportamento dos vândalos. A hora foi das mais oportunas para os sepulcros caiados afirmarem:
“-Que horror, eu nunca teria feito aquilo! Ela é culpada de querer se aparecer e não soube se comportar. O problema é dela!”
Não! O problema é nosso sim! É de todos que temos que conviver com seres que vão perdendo sua capacidade de reflexão, de altruísmo, de equilíbrio e civilidade!
A cena lembra também quando aquelas operárias foram queimadas numa fábrica têxtil pelo patrão em uma situação de greve... O incêndio criminoso, concretizando a gana machista e a oposição da mulher de ter que fazer frente e lutar por seus direitos. Sem entrar no mérito da veracidade das diversas versões para a história que fundamentou a escolha da data para o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março.
O fato é, quiseram caçar a aluna, queimaram sua imagem e a expuseram publicamente! O que Jesus teria dito naquela ocasião? Daria a sentença para que ela fosse apedrejada? E Leila Diniz? Entenderia a histeria pública e o linchamento por causa de uma mini-saia? Talvez ela não entendesse o que esses seres “modernos” e “evoluídos” fizeram...
E dizer agora, do alto de uma misericórdia infinita:
“-Então tá bom! Voltamos atrás e tá tudo resolvido, viu! Não vamos expulsar a universitária. Vamos perdoá-la, deixá-la vir às aulas! E tudo vai ficar certo!”
Certo nada! A atitude vergonhosa da universidade legitimou a ação dos bárbaros e mostrou ao mundo inteiro que lá estão sendo formados vândalos diplomados na barbárie!
Até que ponto aquela mulher bonita mexeu com os egos frustrados das mulheres e dos enrustidos que se ofenderam com suas formas?
A cena foi clara e não deixa dúvidas:
“-Você nos ofende com sua exuberância. Não conseguimos aceitar isso em você e não vamos tolerar sua beleza. Vamos destruí-la, extingui-la e colocá-la fora de nossas vistas! Vamos expulsá-la!”
É a mesma história do vaga-lume, que por brilhar tanto, incomodou a cobra, que quis devorá-la, apenas pela beleza de sua luz!
Agora, os falsos moralistas podem finalizar o incidente jogando mais veneno:
“-Bem, pelo menos agora, olha lá! Ela vai sair na Play Boy e vai pra TV! Conseguiu fama e dinheiro! Tá vendo! Era isso que ela queria o tempo todo! Ela provocou tudo! Ela é culpada de verdade! Queria se aparecer e agora, conseguiu!”
Bem, devo dizer aos venenosos e as invejosas de plantão que se ela conseguir mesmo uma forma de receber algum dividendo de todo o mal que sofreu, não seria nada mais do que justo. Afinal de contas, o que deve acontecer acontecerá. Com ou sem a ajuda de alguém! Se é pra ela ganhar alguma coisa com isso, que seja. O que está previsto para nós, acredito, acontecerá. Chegaremos onde tivermos que chegar, com o empurrãozinho de uma mão amiga ou um golpe do destino! O importante, penso, é que nada pode frustrar aquilo que está planejado para nós. Dizem que até o diabo trabalha para Deus. E nesse caso, não será diferente! Torço que a luz de Geisy brilhe bem alto, onde as víboras sorrateiras não alcancem e nem consigam devorá-la. Que brilhe na frente dos holofotes ou simplesmente sentada, estudando, na sala de aula... Que venham as revistas, os programas de TV, que venha a fama, o dinheiro e muito mais! E quem se sentir incomodado que mude o canal!
*Rose Leonel
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
A SAIA DA DISCÓRDIA- PERDENDO O FOCO!
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CRÔNICAS
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